quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A pressão do voluntarismo obrigatório



O que é uma "cooperativa"? Segundo qualquer dicionário, a palavra "cooperação" denomina uma acção conjunta ente vários elementos de um grupo, que se entreajudam, voluntária ou involuntariamente, tendo em vista um objectivo ( e/ou um bem) comum.

O que aconteceria se...?

No caso de existir alguém a tomar as rédeas da dita "cooperação" (a oganizar o que cada um pode dar voluntariamente, é óbvio...) o que aconteceria se esse alguém, exigisse, de cada membro, a obrigação de "dar o que puder" e contribuir para a "causa"?

No sentido religioso, em certas seitas, existe o termo "dízimo" que consiste, num termo específico, em oferecer uma décima parte do que se ganha em ordenado.

Se formos a ver bem como a coisa funciona, qualquer religião tem (ou teve) uma função social. A religião une as pessoas em torno de um ideal, de uma comunidade, de uma crença, em suma, de factores comuns entre todos. Se, nas comunidades antigas (falo das comunidades que se formaram e mantiveram desde a idade média até à idade da razão) a religião teria a função de proporcionar a justificação de fenómenos incompreendidos para as mentes da altura, teria também a função de proporcionar e organizar entreajuda, cooperação e união espiritual entre as pessoas que compunham essas comunidades.

A ideia da existência do dízimo (ou de uma forma qualquer de contribuição obrigatória), na minha opinião, expressa o pagamento de um serviço. E é o que a Igreja faz, nos dias de hoje. Ela exerce um serviço espiritual a quem necessita. Esta Igreja, esta religião e qualquer uma das outras.

Mas o que é que a religião tem a ver com a cooperativa?

A religião serve aqui para dar um exemplo. Se alguém não contribuir para o bem-estar comum dentro da "cooperativa", é livre de o fazer, apesar de saber que isso pode vir a ter consequências bastante prejudiciais para o próprio indivíduo. E é assim que funciona em certas "cooperativas". Se o indivíduo não responde à altura da comunidade, primeiro é testado, e depois, excomungado. Esta ideia, na minha opinião, é ser um teste às pessoas que compõem a dita "cooperativa", e assim, ser uma filtragem das pessoas que servem ou não as ideias dessa mesma "cooperativa". Ou seja: existindo qualquer espécie de filtragem, essa "cooperativa" está, não só a proteger-se de ameaças exteriores, mas também a evitar que haja contaminação mental dos seus membros "que residem dentro do castelo". A comunidade mantém-se acolhendo quem serve os seus propósitos, e eliminando quem não os serve. E cada um é livre de escolher o seu próprio caminho. A intolerância ou desdém para quem escolhe um caminho diferente é algo que começa a dar os seus primeiros passos a caminho do fanatismo.

A sociedade é cruel para quem não desempenha um papel pré-definido. Infelizmente, sendo um animal social, o homem vai estar sempre sujeito à crueldade, quer seja ele a perpetrá-la, quer seja a vítima. É assim que funciona a natureza humana, não há muito a fazer para se lhe escapar.

Dentro de um grupo de pessoas com as mesmas ideias, das duas uma: ou seguimos essas ideias ou somos rejeitados.

"Eu, Ismael, era um dessa equipagem; tinha erguido os meus gritos com os outros; o meu juramento soldara-se ao dos outros; e gritei mais alto, e jurei com veemência, justamente porque o terror lavrava na minha alma. Vivia em mim um sentimento de simpatia selvagem e mística. O ódio insaciado de Ahab parecia pertencer-me. Atentos e ávidos, os meus ouvidos escutavam a história desse monstro assassino contra o qual eu e os meus camaradas tínhamos prestado um compromisso de violência e de vingança."
Moby Dick, de Herman Melville, traduzido por Alfredo Margarido e Daniel Gonçalves, em Outubro de 2005, por Edições Relógio D'Água.

domingo, 18 de outubro de 2009

Teatro Nacional de S. Carlos



Parte de uma série de (para já) três ilustrações que se juntam ao texto de André Oliveira num projecto que tem como tema principal a banalização da cultura, neste caso, a nossa.

Tinta-da-china sobre papel, como de costume.